Racismo raiz: dentro de casa é mais difícil de ver e de tratar
junho 5, 2020
Estamos em uma semana de pólvora, incêndios e manifestações. E não é só aqui no Brasil, onde as coisas estão pegando em várias frentes. O mundo parece não querer deixar passar e acalmar e iniciar a viver o tal do novo normal. A sensação é de uma energia acumulada, por tanto tempo em casa, sendo colocada para fora.
Em 25 de Maio, o segurança George Floyd, um homem negro, foi assassinado em Minneapolis, nos Estados Unidos. Floyd foi detido, imobilizado, algemado e morreu com o joelho de um policial sobre seu pescoço, impedindo sua respiração durante quase nove minutos, tudo isso por uma ação policial. Seu crime: um suposto uso de uma nota falsa. Ou por ser negro?
Essas imagens foram mostradas mundo adentro, e ficou claro o exagero por parte dos policiais que em hora nenhuma correram riscos, e não tinham necessidade de usar de tanta violência.
Desde então, a revolta dos americanos, e de forma sequencial em vários países também mostraram um rompimento com as instituições por muito não se considerarem protegidos, em situações como essas, onde temas que já deveriam estar lá atrás ainda estão presentes.
Nesse caso falamos do racismo: segregação de raças, que um dia foi inventada, por acharem que uma cor deveria ser superior a outra. E esse conceito que já dizimou milhares e milhares de vidas, e também, predestinou tantas outras gerações à um futuro diferente das de outras cores de pele.
E aqui no Brasil como estamos? Houve repercussão, sim. Estamos falando no tema. Muitos estão se colocando. Mas o triste é pensar que em um momento difícil como o que estamos, no pico do coronavírus por aqui, e um tema que muito nos diz respeito, e não há como negar: afinal somos uma nação, segundo os últimos dados do IBGE de 46,5% pardos, 9,3% pretos, então estamos falando de mais da metade da população. E o tema não é nem levado tão a sério.
E como agravante nosso presidente que na maioria dos casos não sabe como agir, colocou na presidência da Fundação Palmares, “a primeira instituição pública voltada para promoção e preservação dos valores decorrentes da influência negra”, Sérgio Camargo, um dos negros mais racista possível, que classificou o movimento negro como “escória maldita” e que servia para abrigar “vagabundos”.
No áudio reportado pela imprensa, relativo a uma reunião de Abril, Camargo, em vários momentos, trata a cultura afrodescendente com desdém e coisa de macumbeiro. “Eu não vou querer emenda dessa gente aqui. Para promover capoeira? Vai se ferrar”.
Como iremos olhar, e abominar, o racismo no país dos outros se não temos nem, de longe, o nosso resolvido? Arrumar a casa, valorizar o nosso povo, sua cultura raiz, o que trouxe para o sentido de nação, dar as devidas oportunidades, condições de vida e igualdade, é dar-lhes o que foi tirado há muito e muito tempo atrás quando chegaram ao Brasil, já na condição de escravos e assim oficialmente ficaram até a Lei Áurea, mas em situação análoga, muitos permaneceram por outro tanto. Certamente algo a se pensar!